Getúlio Damado

Na sombra de uma árvore em Santa Teresa, bairro boêmio do Rio de Janeiro, avistamos a estrutura de um velho bondinho amarelo (típico dos que passam pelos trilhos do bairro), repleto de objetos. Seria um ferro velho? Um brinquedo gigante? Uma galeria a céu aberto? Talvez tudo isso junto.

Encostado em um canto, encontramos Getúlio, que nos recebe com muita gentileza. Nascido em Minas Gerais, ele já se considera quase um carioca, depois de décadas vivendo no RJ. Criou sozinho os 3 filhos, e ainda hoje ajuda a criar o neto. Teve algumas experiências trabalhando em outros lugares, mas prefere mesmo é trabalhar por conta, fazendo sua arte. Ele reconhece o valor de seu trabalho, mesmo sem revelar grandes ambições. Diz que produz no seu ritmo, as vezes fica um tempo sem fazer nada, e de repente produz muitas peças no mesmo dia. Vender é igual: podem se passar dias sem nenhum cliente aparecer, mas tem outros que vê suas peças ganhando novos destinos, muitas delas indo para outros países.

Além de oficinas em escolas e organizações, Getúlio já fez exposições em outros países, a convite de clientes que se apaixonaram pela riqueza e expressividade de seu trabalho. O uso de materiais reciclados é muitas vezes visto como algo inferior, mas vejo de outra forma, pelo contrário, é preciso uma alma muito livre, um olhar de verdadeiro artista-poeta para quebrar as fronteiras do cotidiano e enxergar um rosto onde tanta gente diria que é apenas uma ferramenta velha. Nas mãos de Getúlio tampinhas, pedaços de madeira, metal, pregos e uma infinidade de materiais que nossa sociedade descarta como lixo, são transformados em esculturas inimagináveis, ganham cores, vida, novas formas e novas histórias.