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Os custos invisíveis do artesanato

Os custos invisíveis do artesanato

Muitas vezes, falar no uso de matéria prima natural, como o barro, as fibras, sementes, pode dar uma impressão muito equivocada (e até reducionista) de que isso facilita o processo ou reduz os custos de um trabalho artesanal.

Um olhar mais distante pode até acreditar que o artesão pega o barro lá do quintal, ou extrai as folhas das árvores ao seu redor. Enquanto o que acontece na prática é bem diferente. Talvez a gente não considere a complexidade desses processos em toda sua dimensão.

Foi muito marcante em nossa visita à mestra Irineia, ceramista de Alagoas, contanto sobre os desafios de se conseguir o barro. No caso dela, o barro de hoje já não é mais o mesmo, as peças descolam e quebram com mais facilidade do que antes, e é bem possível que tenha acontecido uma alteração em função do gado que é criado na região, que além de pisar nos Barreiros, também urina no local, e isso vem alterando quimicamente sua composição.

A expansão da fronteira agrícola e o avanço da urbanização são alguns dos fatores que tornam as matérias primas cada vez mais escassas em diferentes regiões. Além de demandar maior deslocamento, muitas vezes só são encontrados em propriedades particulares, que cobram por sua extração, como foi o caso de Mestra Irinéia, que para conseguir barro em outro ponto do rio, só seria possível através de uma propriedade particular, que cobra por isso.

Artesãs de mais idade também tem dificuldade em carregar por longas distâncias o barro pesado, e muitas vezes precisam pagar alguém pra fazer esse serviço, como é o caso das artesãs no Vale do Jequitinhonha.

O mesmo acontece na extração da palha de carnauba, no interioe do Ceará, que em sua maioria fica em propriedades privadas que cobram um valor para retirada.

Para alguns grupos, até mesmo a queima pode ter um custo adicional, sela na compra da lenha, ou do aluguel de fornos compartilhados.

Existem ainda grupos que criam verdadeiros ecossistemas de produção, fomentando a geração de outros empregos para terceirizar etapas específicas, o que também é potente, e ao mesmo tempo requer mais pessoas sendo remuneradas por uma peça.

Na ausência de políticas públicas adequadas, quem produz acaba enfrentando muitas dessas dificuldades, e tantas outras, sem nenhum suporte.

E por algum motivo parece que esses custos ficam invisíveis, se perdem ao longo do processo. Na verdade ele é custoso, trabalhoso, é um processo verdadeiramente caro.

Quem barganha com o artesão, ignora essas complexidades.

Quem diz que “artesanato é caro”, desconsidera essas nuances

Achamos muito importante trazer essa reflexão, para dar espaço ao que não pode ficar invisível.

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